Março de 2007
Há uma revolução global em curso. Não é capitaneada por um partido político ou por uma vanguarda. Não tem bases militares e sua estratégia é anti-beligerante. Essa revolução mobiliza milhões de pessoas no mundo todo. Dela sabemos muito pouco até agora. O que sabemos é que na base de sua mobilização, organização e educação popular estão milhares de movimentos e milhões de pessoas integradas em redes colaborativas. São redes de todo tipo e que atuam nos campos da cultura, da política e da economia. São milhares de movimentos: ecológicos, feministas, por igualdade racial, por direitos humanos, contra a fome, por moradia, por terra para cultivar, contra a agricultura transgênica, pela democratização da comunicação, por acesso a canais de TV e rádio, por transporte de qualidade, contra discriminações, pela democratização dos Estados, pelo orçamento participativo, pela economia solidária, contra o aquecimento global, pelo software livre, por tecnologias livres e
sustentáveis, pelas metas do milênio, pela autodeterminação dos povos e tantos outros. Pode-se dizer que o número de movimentos é bastante superior ao número de problemas específicos em torno dos quais as pessoas e coletividades se organizam para atuar em conjunto. Uma vez que há um conjunto de movimentos que se organiza em torno de temas culturais e artísticos, desenvolvendo as dimensões imaginativas, criativas e expressivas de comunidades e povos.
Movimentos que atuam preservando sabores e saberes locais, modos de cultivo ou preparo de bens, produtos e serviços que expressam culturas e valores. Movimentos pela preservação de línguas e patrimônios culturais.
Uma revolução está em curso porque, coletivamente, de baixo para cima, democraticamente, construindo consensos e respeitando dissensos argumentados, esses milhares de movimentos e organizações, esses milhões de pessoas começaram a tecer redes solidárias, colaborativas, construindo canais e conexões que têm o potencial de interligar o local e o global, a diversidade na unidade, fortalecendo lutas específicas e globais, reafirmando que quanto mais unidos e diversos, quanto mais se entre-apoiarem pela justeza de suas causas, mais fortalecidos todos serão e melhores chances terão de alcançarem seus objetivos.
Mas pouco sabemos desse fenômeno. Enxergamos esses movimentos por toda a parte. Vemos as suas conquistas. Mas ao mesmo tempo parecem ainda poucos e insuficientes para mudar o mundo. De movimentos de resistência, de movimentos reativos, progressivamente vão se transformando em movimentos propositivos, pró-ativos. Alguns se confrontam com governos e poderes constituídos; outros com setores da própria sociedade civil; outros contra pseudo-valores sociais, como o machismo e o consumismo. Aos poucos deixam apenas de reivindicar e passam a propor o que querem que seja feito: "queremos que sejam realizadas essas políticas e ações que apresentamos; queremos que elas sejam feitas do modo que propomos; e queremos participar como sujeitos nessa realização".
Em alguns países, esses movimentos avançam democraticamente na substituição de governos locais, estaduais e federais, elegendo novos governantes com perfis mais populares e favoráveis à realização das suas proposições. Articuladas, essas redes solidárias enfrentam embates políticos, disputando hegemonias em torno dos projetos nacionais. Em outros casos, começam a implementar por conta própria as proposições que apresentam e que ficam sem resposta dos poderes públicos. Mas permanecem igualmente mobilizados, exigindo deles melhores condições para prestar os serviços de caráter público que tais movimentos ou organizações sociais fornecem gratuitamente às suas comunidades.
A grande novidade dos anos 90 foi a descoberta de que podemos tecer redes colaborativas entre todas as organizações solidárias e articular nossas soluções e conquistas, nossos problemas e desafios, nossas estratégias e práticas cotidianas, construindo eixos de lutas
que articulam o local e o global, o imediato com o longo prazo, a diversidade e a unidade, o enfrentamento das estruturas que geram os problemas com a implantação das novas estruturas que sustentam as soluções. Que podemos integrar nossas ações culturais, políticas e econômicas em movimentos de libertação popular, cada vez mais potentes e abrangentes, que tratam simultaneamente das questões cotidianas de nossas vidas e que atuam na transformação das estruturas econômicas, políticas e culturais de nossas sociedades.
(Tradução sintética ao Inglês em http://www.turbulence.org.uk/solidarityeconom.html)
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